Análise: Battlefield 4

Com a sucessão dos últimos anos - e consequentemente, dos últimos títulos da saga Battlefield - a DICE tem vindo a conquistar um espaço cada vez mais bem definido junto da comunidade de fãs de atiradores na primeira pessoa. Com a chegada da época festiva de 2013, a produtora sueca sabia perfeitamente que tinha na mão uma oportunidade única para aplicar um golpe crítico no resto da (cada vez mais debilitada) concorrência. Assim, aquele que é o nono título no percurso principal percorrido pela série iniciada em 2002, é chamado para o combate transportando um fardo relativamente pesado, face à força das circunstâncias.
Em Battlefield 4 a urdida do enredo apresenta uma simplicidade extremamente exagerada, que acaba por se refletir também em cada uma das personagens. Como já é habitual neste tipo de videojogo, os guionistas encarregaram-se da criação de um conflito virtual à escala mundial, capaz de servir como móbil de ação para os protagonistas cuja pele vestimos. Tratando-se esta de uma aventura maioritariamente movida por fricções políticas e burocráticas, não esperem ver uma história muito envolvente ou com personagens capazes de criar grandes laços com o jogador.
A primeira componente que se evidencia depois de ultrapassarmos o menu inicial é relativa aos visuais do jogo. Face a uma estrutura de níveis cuja envergadura tende sempre para o colossal, pedia-se que a equipa de desenvolvimento conseguisse criar uma experiência visual que contribuísse ainda mais para a construção de um ambiente com conotação épica. Depois de a fasquia já estar bastante elevada tendo em conta o desempenho de Battlefield 3, esta não era uma tarefa propriamente fácil. Mas o estúdio responsável pela produção conseguiu ir ainda mais longe e apresentar algo que ainda que inclua pormenores gráficos mais escassos a um nível mais próximo, na sua globalidade regista diversas melhorias.
As texturas que cobrem grande parte do cenário estão indubitavelmente mais detalhadas, contribuindo para a criação de uma visão geral muito mais agradável. Também a veracidade de todos os efeitos explosivos, de fogo e principalmente de fumo se encontra trabalhada de uma forma mais bem conseguida, contribuindo para que este seja um dos jogos com melhor visual de todo o catálogo de jogos da geração de consolas que engloba a Xbox 360.
A imagem de marca da série Battlefield volta a ser desenhada neste novo título. A DICE não tem problemas em deixar bem claro, logo a partir dos primeiros momentos de jogo, que tem como objetivo recriar da melhor forma a realidade através de uma atenção extrema prestada aos detalhes técnicos do ambiente de guerra. Talvez como consequência deste fator, a jogabilidade não é, de todo, do género da que é apresentada noutro tipo de atiradores na primeira pessoa, que primam na criação de condições para que o jogo decorra de forma mais rápida, numa ação fast-paced que resulta numa sensação de jogabilidade mais arcade.
O objetivo em Battlefield 4 é outro, trata-se de tentar fazer com que tudo pareça o mais verosímil possível. Como tal, há que saber apreciar a obra dentro dos parâmetros adequados. A mentalidade de combatente deverá ser suficiente para compensar o facto de a nossa personagem se mover de forma positivamente "pesada", "presa", lembrando-nos em todos os instantes que o nosso corpo enverga trajes de guerra, que dificultam em parte a mobilidade.A forma como nos movimentamos no campo de batalha, a velocidade com que percorremos os cenários em busca de inimigos e a maneira de interagir com os colegas de esquadrão também deve ser feita tendo sempre em mente o facto de o jogo não perdoar erros de principiante. Pode parecer tentador iniciar um rush incauto através das linhas inimigas, mas a experiência adquirida depois de uma ou duas tentativas desta género revela-se imediatamente desencorajante. A estrutura dos cenários convida sempre a uma abordagem mais cuidada, que beneficia aqueles que revelam cuidado ao escolher o flanco a abordar, ou a cobertura a escolher.
Aqui, a destrutibilidade dos cenários - agora ampliada para muitos outros tipos de superfícies - assume um papel de ainda maior importância. A capacidade dos inimigos para destruírem um número maior de estruturas sob as quais podemos estar abrigados funciona como uma espécie de mecanismo "batata-quente", que nos relembra constantemente que não podemos passar demasiado tempo a usufruir de um belo head glitch ou corremos o risco de ser expostos em campo aberto.
A inteligência artificial apresentada no jogo funciona relativamente bem no que toca aos inimigos, mas é especialmente desapontante quando apreciamos o comportamento dos outros membros do nosso esquadrão. Como se não conseguissem ver aquilo que à sua frente se evidenciava, foram muitas as vezes em que avançaram para coberturas onde já existiam inimigos, chegando até a colocar-se na rota das minhas próprias balas ou a movimentar-se em direção às granadas inimigas como se de uma cena entre um cão e uma bola de ténis se tratasse.
O leque de missões com as quais somos confrontados ao longo do jogo é suficientemente variado para que a sensação de repetição tarde bastante a chegar. Ainda que, como seria de esperar, o sumo da ação esteja relacionado com confrontos de arma na mão, também existem alturas em que nos é incumbida a função de guiar veículos, escapar de edifícios em desmoronamento eminente ou lutar pela vida em condições extremas.
Tudo isto acontece enquanto somos brindados por uma componente sonora de grande qualidade. Não falo da banda sonora propriamente dita, mas sim da resposta audível a cada tiro disparado ou cada explosão causada. Qualquer fã aguerrido do género sabe quão desapontante é ver o nosso poder de fogo ser traduzido em inofensivos estalinhos de Carnaval através das colunas da televisão ou headphones. Felizmente, em Battlefield 4, a DICE volta a conseguir ter um desempenho positivo nesta área, construindo todo um arsenal sonoro que se alia a uma flagrante clave épica.
A minha curta passagem pelo modo multijogador confirmou as suspeitas que já vinha a alimentar há muito. Tal como na campanha, também aqui se nota o tradicional cunho da DICE, ao apresentar um modo para vários jogadores cuja jogabilidade beneficia completamente a parte tática do desempenho dos solados, em detrimento da sua perícia com o comando, reflexos ou capacidade de tiro. É impossível inferir se esta é, de facto, a escolha acertada a fazer na produção de um jogo deste género. Mas o que é certo é que essa já tem vindo a ser a bandeira hasteada pela produtora sueca, que ano após ano se recusa a apostar no mesmo cavalo que os seus concorrentes, deixando de parte a jogabilidade mais rápida que pretende evidenciar as diferenças entre a qualidade dos jogadores nos confrontos de um para um.
A novidade em Battlefield 4 passa também pela adição do sistema Levolution que permite a destruição massiva de um dos elementos do cenário em cada um dos mapas. A divulgação ampla desta componente durante o período que antecedeu o lançamento do jogo representou um erro que talvez se tenha tornado fatal. A importância deste sistema no decorrer dos eventos não é, nem de perto, tão grande quanto aquilo que os jogadores tinham sido levados a imaginar, representando apenas uma versão a larga escala de um sistema que já tinha sido explorado noutros atiradores na primeira pessoa.
As diferenças em relação ao modo Online dos jogos anteriores não são muito significativas, mas regista-se a modificação de algumas animações e da forma como cada uma das armas responde ao jogador. Continuei a registar alguns problemas de latência, que podem ter influenciado a impressão com que fiquei em relação às hitboxes do jogo, cujo desempenho me conseguiu deixar bastante frustrado em diversas ocasiões.
Battlefield 4 é um jogo que proporciona poucas mas boas horas de diversão, cujo cardinal é aumentado com o recurso ao modo Online. As sequências de ação estão desenhadas de modo a que o dobrar de cada esquina esconda uma nova situação de tensão, recriada à semelhança daquilo que ocorre num confronto real. Todo o modus operandi do jogo é caraterizado por uma mistura saborosa de empolga e adrenalina, um dos pontos fortes da experiência.
O nível de especialização apresentado no género de atirador não é tão complexo quanto aquilo que podemos ver em jogos do género de ArmA 3, mas continua a ser superior àquele que, por exemplo, a série Call of Duty ostenta. Assim, este não vai ser um título para o gosto de todos os fãs do género. Não oferece uma experiência suficientemente inovadora dentro do leque de propostas disponíveis no mercado, capaz de representar o derradeiro checkmate diante dos seus opositores. Não tenho dúvidas de que esta é uma experiência sólida e empolgante em alguns momentos, mas acaba por não transparecer brilho suficiente para que seja elevada a um patamar onde os jogadores a desejavam ver.
Quem quiser saber mais sobre o game, aqui esta o link do canal do zangado games com a primeira hora de jogo: www.youtube.com/watch?v=-ZyNU0NoGrA
Fonte: Video Gamer Portugal
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